Notícia

quinta-feira, 05 de agosto de 2010

2° Enfoc Paraná fez um resgate histórico da estrutura sindical

Formadores propuseram uma série de reflexões políticas e sociais acerca do sindicalismo rural

De 12 a 16 de julho, a Fetaep realizou a 2ª etapa Estadual da Escola Nacional de Formação Política Sindical da Contag (Enfoc). O encontro, que contou com a participação de 23 lideranças sindicais, teve o propósito de fazer um resgate histórico da organização sindical rural e também propôs uma série de reflexões políticas e sociais acerca do sindicalismo rural. Todos os debates giraram em torno da temática “História, Concepção, Estrutura e a Prática Sindical”.
 
O 1° formador convidado foi o sociólogo professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Osvaldo Heller da Silva, que falou sobre as “Origens dos Sindicatos dos Trabalhadores Rurais”. Durante sua fala, ele relatou os principais trechos da história da constituição e do desenvolvimento das organizações sindicais do campesinato e dos trabalhadores rurais no Paraná. No final da década de 40, segundo ele, conflitos pela posse de terra culminaram na criação da Liga Camponesa na região de Porecatu (Norte do Paraná).
 
De acordo com o sociólogo, que também é o autor do livro “A Foice e a Cruz”, em meados dos anos 50, o Partido Comunista começou a propor a organização sindical aos trabalhadores rurais e criaram, em Maringá, a União Geral dos Trabalhadores de Maringá (UGTM). “Logo, os grandes latifundiários se opuseram à criação dos sindicatos alegando ser uma atitude subversiva à lei, uma vez que não estava previsto na CLT”, relatou.
 
Em reação à expansão Comunista, a Igreja Católica criou a Frente Agrária Paranaense, que passou a angariar a sindicalização dos trabalhadores rurais. “Podemos dizer que o berço da organização sindical rural do Paraná é o Norte do Estado e sua concretização ocorreu com muitos conflitos”, destacou o escritor aos participantes do 2º módulo do Enfoc Paraná.
 
Na sequência, o tema discutido foi “Gênero, Geração e Etnia”, com o professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Valmir Stropasolas e com a doutoranda da Unicamp, Vilênia Venâncio Porto Aguiar. Segundo ela, a mulher do campo é mais oprimida do que as do meio urbano. “A sua condição é muito desigual a do homem, sendo mais gritante do que a da mulher urbana”, afirmou. Já Valmir comentou que os jovens do meio rural carregam um peso muito grande por serem jovens. “Eles não têm autonomia financeira e seus pais centralizam as decisões. Muitas vezes, inclusive, não acatam as sugestões dos jovens devido à falta de confiança”, alegou.
 
No 4° dia da Enfoc, o professor da UFPR e doutor em “Educação: História, Política, Sociedade”, Gracialino da Silva Dias fez uma reflexão acerca do eixo principal da Encoc que foi “História, Concepção, Estrutura e a Prática Sindical”. Segundo ele, é fundamental que os sindicatos tenham o reconhecimento da sociedade, porém este reconhecimento não deve estar embasado apenas em políticas assistencialistas. “O assistencialismo como norma acomoda as pessoas e os sindicatos precisam instigar seus associados, precisam recobrar o protagonismo na construção de uma nova sociedade”, sugeriu.
 
Para isso, segundo ele, as entidades sindicais precisam manter em suas unidades uma mini biblioteca. “A teoria, embasada na literatura, é fundamental para a construção de um conceito rico e consciente. Grandes autores da ideologia proletária demonstram que pensar num outro mundo é possível”, complementou. O professor da UFPR diz ainda que a sociedade de hoje vive como mercadoria visando apenas ao consumo de mais mercadoria. “É daí que surge a alienação”, pondera.
 
Em virtude disso, Gracialino reforçou mais uma vez a importância da teoria embasando a prática dos dirigentes sindicais. “Ao não sustentarmos uma linha teórica, ficamos tagarelando no vazio”, ponderou. Diante desse cenário, o doutor em Educação parabenizou a Fetaep pela realização do Enfoc, cujo objetivo principal é a formação e capacitação dos dirigentes. “Continuem assim, pois os sindicatos são o embrião de uma nova lei”, concluiu.
 
O próximo e último módulo da Escola deverá acontecer em setembro. O tema a ser explorado será “Desenvolvimento Rural Sustentável e Solidário”.